domingo, 12 de fevereiro de 2017

domingo, 18 de setembro de 2016

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Que natal é esse?

Natal!!!
Que natal é esse?
Se não há Papai-Noel,
Se não há festa para festejar.
Falta muita gente nessa mesa.
O principal está ausente.
Era um Papai-Noel que sempre esteve presente.
Aqui, ou mesmo ausente. Ele era o Noel.
Que saudade me dá dele.
Mas é como se não tivesse morrido.
Dos irmãos, o querido era ele.

A gente passa o ano acusando
Mas chega o Natal e está tudo bem.
Por enquanto...
É como se o Saddam dissesse a Clinton:
"Feliz Natal". E lá vai outra bomba.
Por enquanto.
Que natal é esse?

Se o Papai-Noel não está aqui,
Se a mãe já se foi há tempos,
Se nem mesmo alguém que amo está aqui?
Natal nunca foi data para se comemorar.

Quando Jesus nasceu, foi perseguido.
Sua mãe, Maria, seu pai, José,
Não tinham onde morar.
Herodes queria cortar as cabecinhas
Daqueles que haviam nascido.
Parece o dia de hoje quando, sem ser decapitadas
Morrem tantas criancinhas.

Por isso não vejo sentido no Natal.
Festejamos o nascimento de Jesus ou
Comemoramos sua fuga brutal...

Todos vamos rezar a Ave Maria.
Maria que foi mãe de Judas Tadeu antes de Jesus.
E o carpinteiro José que foi homem
Como todos assim queriam.
Para quem tinha tantos poderes
Bastava resistir.
Não há registro do casamento
De Jesus e Maria.
Daí a "Maria-concebida-sem-pecado".

Sonho grande o do Natal.
Família reunida em torno de uma mesa.
Mesa farta de pão e vinho de boa qualidade.
Mesa que Cristo não teve igual, embora também tivesse
Ficado num imenso porre...
Lá foi pão e vinho no pote.
Mas todos ficaram de bêbados, acreditando na mentira
Que até hoje é tida como certa...
Foi a grande sorte de doze bebuns e um garçom de luxo.

Natal!!!

Que data é essa que todos comemoram?
Ainda que faltou sorte, tenho seis mães, três pais.
O quarto pai foi embora
E não deixou o caminho.
Se soubesse para onde ele foi,
Eu também iria agora.

Magno Madureira - 22/11/97

quinta-feira, 26 de março de 2009

O Revide do Bichano

Magno Madureira*


Nunca havia me preocupado com as crendices populares. Principalmente com a de que gato preto transmite azar. Quando criança, tentei transformar um bichano branco em filhote de onça-pintada, usando pincel e tinta a óleo. Deu azar sim, mas para o coitado do gato que, de tanto lamber a tinta-fresca em seu pêlo acabou morrendo intoxicado. Mas, agora, não só acredito como recomendo: esse mamífero felídeo, quando negro, torna azarado quem o vê. Garanto que não foi por racismo que mudei, foi por experiência ou troco dado pelo bicho branco que sacaneei a óleo.

Meados de fevereiro. Ia gozar alguns dias de férias em Carmésia, 250 quilômetros a Nordeste de Belo Horizonte. Logo na saída, meu ônibus atropelou e matou um gato preto. Uma senhora que estava no banco da frente arregalou os olhos e bateu com a mão três vezes na carroceria para me fazer lembrar da crendice. Perguntei se ela sofria de gatofobia e ela respondeu que não: “tenho a saúde perfeita; o que eu sofro mesmo é medo de gato”. Duas horas depois estávamos em Santa Maria de Itabira, na parada para o lanche. Tentei ajudar obesa e supersticiosa a descer do ônibus e fui arrastado por seu peso e pela maldição do gato falecido. No tombo, fraturei a tíbia da perna direita, como vim a saber mais tarde.

Retomei o ônibus e prossegui viagem. Carmésia não mais estava distante e eu procurava esquecer a dor na perna, lembrando a história da cidade onde nasci. Passei pelo distrito de Ferros conhecido como Borba Gato, que herdou o nome do bandeirante que por lá teria passado. Lembrei-me de que Carmésia fora Viamão até se emancipada em 1960. A 17 quilômetros de lá está o distrito de Achopé. Recordei: os nomes estavam ligados a um felídeo maior, uma onça, que comera um bandeirante conforme a história ouvida no grupo escolar. Borba Gato seria o nome da vítima; Viamão, o local onde encontraram uma de suas mãos (vi-a-mão); Achopé, lógico, onde fora achado um pé deixado pela onça (acho-o-pé). Olhei para minha perna dolorida e pensei: será que ainda há lugar para “Achoperna” ou “Viaperna”? E, pela primeira vez na vida, bati três vezes na madeira, ou melhor, na carroceria do ônibus.

Com minha perna direita cada vez mais dolorida cheguei finalmente a Carmésia. Despedi-me da superticiosa gorda e fui saltar do ônibus com a sacola. Dessa vez a obesa não teve culpa. Fui ao chão sozinho, ouvindo um pequeno estalo e sentindo a dor aumentar. Logo depois veio o diagnóstico do doutor José Antônio, único médico da cidade: o perônio da mesma perna direita não resistiu com a companhia da tíbia e estava também fraturado. Teria que por fim às férias planejadas há tanto tempo e retornar no dia seguinte a Belo Horizonte, numa confortável ambulância. Foi o que fiz e procurei os cuidados especiais de um ortopedita/traumatologista doutor Arnóbio Moreira Félix. Passei pelos seguintes tratamentos: “redução incruenta de fratura dos ossos da perna”, “imobilização gessada” e “artrocentese do joelho”.

Depois de todos os procedimentos médicos e já refeito da anestesia, agucei a curiosidade para conhecer melhor o doutor Arnóbio. Além de atender no Socor e outros hospitais de Belo Horizonte, ele é ortopedista/traumatologista do América Futebol Clube e do Exército (onde tem a patente de tenente-médico), na Capital. Com esses créditos, ele me acalmou até recomendar “acompanhamento cardiológico”, sob o argumento que eu havia passado por crise hipertensão arterial no bloco cirúrgico (pressão de 230x14). Também pudera: da sala ao lado escutei, antes do anestesiado e por meia-hora, barulhos de uma serralheria: erram serras, martelos e outros instrumentos de ferro usados na cirurgia do paciente vizinho.

Das dores, da crença na sabedoria popular e dos sustos ficaram a recomendação da licença médica por 120 dias e uma feliz constatação: o doutor Arnóbio não é apenas médico, pois longe dos blocos cirúrgicos ele se apresenta há anos – antes mesmo da faculdade de medicina – como “mágico profissional”. Tira coelhos de cartolas para animar festas infantis. Não era por acaso que ele estava – e continua – no América, time que tem um goleiro chamado Milagres. Ou também no Exército de um País que não vive de guerras, embora tenha muitos gatos, de quatro e dois pés. E, ao pensar nisso, fiquei tranqüilo, mesmo com um metro de gesso no membro inferior direito e ouvindo uma animadora enfermeira prever: “Em breve você estará esperto como um gato”.


* Jornalista PRC

sábado, 21 de março de 2009

Sr. Síndico

Sr. Síndico,

cachorros. 2. O dicionário Aurélio, da Lígua Portuguesa, classifica como “cachorrada” aquilo que é 1. “sf – Bando de Ação de cachorro”.

Pois bem.

Estamos enfrentando uma verdadeira “cachorrada” em nosso prédio, o que fere não só a Convenção do Condomínio como também o Regimento Interno.

Não estaria contra os caninos, não fossem eles eventuais portadores de algumas doenças, tais como:

Raiva (hidrofobia)

Leishmaniose

Sarna Sarcóptica

Entre outras...

Tais animais latem, rosnam, choramingam, fazem grunhidos que, às vezes – e muito freqüentemente - incomodam. E incomodam muito mesmo. A julgar pelo que está acontecendo, sinto-me no direito de trazer para este Condomínio minha vaca Estrêla e meu boi Fubá.

Assim posto, solicito ao Condomínio providências, ainda que, pelo menos, tais caninos infratores apresentem, pelos proprietários (claro), atestados de vacinação.

Agradecido,

José Magno S. Madureira

Apartamento 102.

domingo, 15 de março de 2009

Discurso

Senhoras e senhores membros do Executivo,
Senhoras e senhores membros do Legislativo,
Senhoras e senhores membros do Judiciário,
Autoridades militares,
Autoridades eclesiásticas,

Boa tarde a todos.

Não quero que me mandem fazer o que não quero.
Não quero que estabeleçam leis para eu cumprir.
Não quero que me julguem ou condenem pelo o que não fiz ou não faço.
Não quero que me ordenem marchar contra o que defendo.
Não quero que me façam rezar o credo que não é de minha crença.

Quero que me respeitem.
Que saibam que cumpro apenas o que é, não lei, mas racional.
Que saibam que não invento leis nem posso cumprir as que são inventadas segundo as conveniências.
Que não aceito julgamento ou condenação de tribunais irracionais.
Que não sei marchar nem cumprir ordens absurdas.
Que não rezo para o santo inimigo ou desconhecido.

Saibam que eu quero ser feliz.
Saibam que insistirei neste propósito.
Saibam que, por mais que houver insistência, eu serei eu e minha trincheira será sempre
A minha mente !!!

Senhoras e Senhores,

Que sigam para a PUTA QUE PARIU !!!

Magno Madureira

sexta-feira, 13 de março de 2009

Vitalino e sua República Atrevida (VI)

Cresceu a popularidade de Vitalino em um mês e ele se aproveitou. Chegou a anunciar que iria se matar, “de jeito lento para deixar saudades”. E voltou a frequentar o bar do Leci, de onde nunca saiu. A cada pinga bebida, dizia ter diminuído um minuto da vida. Só nos primeiros dias ele somou: “24 horas têm 1.440 minutos. Então hoje já envelheci 2.880 minutos”. Ou seja, a contabilidade do Leci não deixava margem de erro: eram duas talagadas por minuto. A conta, mais uma vez, seguia para a prefeitura da República Atrevida do Viamão, onde Vitalino só teve o cuidado de não nomear tesoureiro, ou qualquer outro funcionário que pagasse contas.

O anúncio da morte premeditada de Vitalino comoveu a cidade. Padre Antônio chegou a implorar, mas o prefeito foi em frente, seguindo um plano muito bem traçado. “Morreu” numa segunda-feira e mandou que a notícia fosse espalhada. No terceiro dia, de avental branco, reapareceu na Praça do Carmo, anunciando o milagre da ressurreição. As beatas fizeram fila, organizadas por Dona Grossa. Vitalino escolheu um grupo de moças como “filhas de Maria”. E sua pregação, que antes era feita no templo nada santo, foi transferida para a igreja do padre Antônio. “Está declarada a sucursal do Vaticano, e esse que vos fala, nomeado o sumo-pontífice adjunto”, anunciou na primeira missa que celebrou.

Esperto que era, Padre Antônio retomou a disputa com Vitalino, sem agressões, pelo menos nos primeiros dias. Mandou construir um busto do desafeto e fez com que ele fosse entronizado na igreja do Carmo. No pedestal, escreveu: “Aqui está o milagre da ressurreição. O benfeitor Vitalino grandifica nosso Viamão”. Uma rima barata que irritou o prefeito impostor, e por isso mesmo motivou uma resposta escrita também no pedestal: “Se o padre quer puxar o saco, que puxe o de seu pai. Pois o meu, de tanto ser usado, se puxado logo cai”. O prefeito desenhou um grande órgão genital masculino sob a inscrição e, abaixo dele colocou um saco de farelo de milho com um bilhete: “Ração para aquelas que desejam ver Vitalino sempre ereto”.

Admirado pelas beatas, pelo Padre Antônio e já com o nome colocado em cidades vizinhas, pensou em se candidatar a deputado, governador, “quem sabe?”. Para isso deveria - segundo as normas do Viamão – ser casado e ter filhos legítimos. Foi com esse pensamento que aceitou o pedido do primo Cocota para “pedir a mão de uma moça”. Ao vê-la, disparou o prefeito: “O sobrinho quer se casar, mas está muito jovem e pode esperar. Por isso, peço a mão de Guadalupe, sua noiva, inteiramente para mim”. Casou-se e, nove meses depois, recebeu os primeiros filhos, trigêmeos. “Foram feitos em pé, se estivesse feitado, nasceriam pelo menos seis de uma vez só”, zombava sempre.

Tudo corria como Vitalino gostava. Até que da jardineira desceu numa tarde o Doutor Vidigal, nomeado interventor pelo governo do Estado e com a incumbência de por fim à República Atrevida. Vitalino foi deposto do cargo de prefeito, para o qual nunca fora eleito. E num rompante, entre dois soluços, ainda conseguiu ditar para a secretária Maria Tu a mensagem de despedida, que era ao mesmo tempo de lançamento de sua candidatura nas eleições seguintes: “Viamão é uma República Atrevida. E que nenhum tribunal se atreva a mandar nela. Viamão é uma cidade vadia. Por isso voltarei a governar essa ruela”.

De volta à iniciativa privada, faltou salário a Vitalino. Ele descobriu o Beltrão como sócio: entraria como provador e o parceiro como fabricante de cachaça. Além disso, o ex-prefeito impostor seria o propagandista da aguardente que recebeu o nome de “Sonhei com ela”, numa alusão aos pesadelos vividos por Vitalino quando lhe faltava o líquido. Ou mais precisamente, quando batia a síndrome de abstinência, diagnóstico ouvido tantas vezes do Doutor Élcio. Na primeira investida, o sócio agradou Beltrão, mesmo bêbado como se encontrava, e criou um rótulo para a “Sonhei com ela”, que coube até um versinho barato:

“A vida é um lago tristonho onde o barco de meu sonho anda vagando a esmo. Mas a vida fica bela, bebendo “Sonhei com ela”, com ela sonhando mesmo”. A poesia agradou e entusiasmou o poeta que decidiu “comprar briga” com o coronel Juca de Barros, rico fazendeiro conhecido pela fama de bravo. Na direção de Juca partiu outro verso: “Juca é feito de barro, de barro fino e batuta, mas esse coronel sempre foi um grande filho da puta”. Esse agradou até mesmo padre Antônio, também criticado em verso igualmente barato: “Seu vigário usa batina para facilitar o seu trabalho. Enquanto ele finge que reza, a beta pela em seu caralho”.

O padre era alvo principal de Vitalino. Gordo, com grandes cabelos nas ventas, o vigário aproveitava os domingos para almoçar melhor. Ou mais do que o costume. Quando terminava a missa das nove e anunciava o “vão com Deus e o Senhor vos acompanhe”, só esperava os fiéis darem as costas para o altar. Aí gritava, quase histérico: “Irmãos, agora vocês vão para as suas casas, um vai comer frango com quiabo, outro uma leitoa e outro um lombinho. Não se esqueçam de dar graças a Deus. Afinal esse padre vai comer angu com banana, mas vai dar graças a Deus”. Em seguida, fazia uma pausa na sacristia, tempo suficiente para chegar à casa paroquial e lá encontrar uma enorme fila de beatas com diferentes pratos domingueiros. Foi num desses domingos que Vitalino interceptou as beatas e temperou as iguarias com um produto laxante. À noite, se divertiu com os gemidos de Padre Antônio na fossa da casa paroquial.

FIM